2004/07/20

Ao que na minha faculdade geralmente chamamos "objecto híbrido composto por um intercâmbio entre duas realidades opostas, das quais resultam uma nova proposta que combina as principais características dos dois mediums" (ou qualquer coisa igualmente má e parecida), o resto da população chama pastiche... Uma palavra simples e metricamente simpática. 
Há uns tempos fiz um pastiche de um texto do José Luís Peixoto.
 
 
 
 
MOESTE-ME
 
 
Regressei hoje a esta terra cruel. A nossa terra. Estou deitada nesta melancólica noite que apagada de vida deixa-me apenas com as fantasias lúdicas do dia já passado. Durmo. Ás voltas nesta cama que ambos construímos, pai. Lembro-me como me contavas histórias de infantas como era bom olhar-te a adormecer. Nesta cama que construímos, pai. Agora durmo, sem sonhar, sem me mexer, imóvel nesta cama que construímos. pai.
Oiço-te pai. Pela porta entreaberta oiço-te com o aspirador junto ao meu quarto, são 5 desta manha que ainda não raiou, mas vejo-te através da luz fina que clareia entre o negro vítreo da noite, Fito-te pai, que ás 5 da manha aspiras cuidadosamente a porta do meu quarto. Roubo um sonho ao sono parado e julgo o dia dissoluto que ainda não começou . Durmo pai.
Oiço-te pai. Que as 7 da manha cortas a relva junto á minha janela. Volto-me na cama mas sei que deixaste a porta aberta para o anafado cão ocupar-me a cama. Empurro-te cão. Entorpecida empurro-te para fora da cama, mas tu não te mexes. Sei, fiel companheiro que agora repousas tranquilo depois de teres comido os teus biscoitos favoritos, os meus sapatos e o gnomo de loiça do jardim. ocupas-me a cama, companheiro.
Oiço-te pai, ligas o rádio ás nove da manha, esse rádio que ambos poderíamos ter construído se vivêssemos no Japão,oiço o rádio, eu e todos os vizinhos num raio de 5km, ouvimos-te pai.
Entras-me pelo quarto, pai, enquanto abres a preguiçosa janela no amanhecer deste dia que já é tarde na manhã. Que já é tarde no dia.
Aproveitas e furas a parede,pai, para pendurar aquele quadro que ainda não comprámos... Mostras-me como é, avanças com um berbequim, avanças e furas a parede e ensinas-me, pai, ensinas-me como o teu pai te ensinou. Eu, ignoro-te mas tu, pai, móis-me o juízo, nesta manhã domingueira.
Moeste-me toda a minha paciência e eu, pai, ignoro-te enquanto tento pensar em adjectivos e advérbios de modo que não ainda tenha utilizado. Consigo ouvir-te a dizer "Levanta-te!", Não te respondo porque tento voltar á sonolência nesta cama que ambos construímos. pai.
Gritas-me da cozinha "ou sais da cama ou não almoças" e eu, pai, só tenho tempo para pensar... moeste-me!

A imbecilidade humana

Apesar de não haver qualquer tipo de estatísticas científicas sobre a imbecilidade humana, tudo me leva a crer, que o número de imbecis per capita tem vindo a aumentar drasticamente em Portugal, pondo o nosso pequeno país num dos primeiros lugares do ranking de imbecilidade europeia.
A quantidade de imbecis, com os quais temos de lidar diariamente, fazem-me acreditar que a teoria evolucionista de Darwin deveria ser reescrita. É certo que descendemos de macacos, mas... não será que, provavelmente, também ascendemos a macacos?
Esta parece-me ser a única explicação para imbecilidade política/cultural/social que temos vivido nestes últimos tempos.
A natureza humana, encontra-se predestinada a viver num loop simiótico (longe de qualquer semelhança à semiótica), em que nasceremos símios e símios morreremos.
Resta-nos encarar o nosso destino, abandonar o que temos em mão e começar a trepar árvores. Quem sabe, poderemos ser pela primeira vez o país mais evoluído da União Europeia, à frente da Espanha, Alemanha, França, Inglaterra, etc., que com a ajuda do Sr. Barroso, rapidamente nos seguirão o exemplo.


2004/07/16

hoje na sportzone reparei nos ténis nike waffle racer (bem giros, numas cores espectaculares), e ao considerar gastar 80 euros naquelas belezuras para os pés, lembrei-me do melhor golpe publicitário dos últimos dias, que teve lugar na final do euro 2004.
 
o problema é que nós como bons portugueses não nos gostamos de lembrar do jogo, e preferimos dizer "ganhámos a organização!!", "somos vice-campeões europeus!!", para que aquelas imagens tristes nao nos voltem ao cérebro. no entanto, com isso esquecemos esse momento em que o nosso glorioso número sete, esse mesmo luís figo, pediu para mudar as chuteiras a meio do jogo.
 
este momento, meus senhores, deve ter rendido belos milhões à nike, para além de terem pago uma bela maquia por aquele grande plano de 1,5 seg às chuteiras do figo enquanto ele as calçava. numa final europeia!! nem quero imaginar quanta gente ficou com aquela imagem dentro do cérebro.
 
não comprei as waffle racer. a nike causa-me espécie. acho que vou comprar umas quase iguais na pull&bear que custam 14 euros.

2004/07/12

na sexta feira, quando estava tudo a espera da declaração do presidente, senti-me num daqueles filmes americanos tipo armageddon, em que tudo depende da comunicação do estado, aqueles discursos que começam com coisas do tipo "my fellow americans...", e depois corta para planos de vários lares americanos, em que toda a gente olha para a televisão como se disso dependesse a sua vida...

será que o país inteiro estava assim agarrado à televisão?

ps.aquilo do ferro a demitir-se e do josé manuel fernandes a dizer "ah isto apanhou-me de surpresa" foi positivamente ridículo. que surpresa? era do mais óbvio que pode haver. as razões que ele (ferro) apontou é que de facto, foram fracas, "derrota pessoal.." "decepção com o presidente" etc etc. e a petulância, a pose do santana a fazer o seu discurso de reacções à declaração do sampaio!
essa noite foi para mim outra prova dos limites da hipocrisia que a democracia que nós vivemos pode alcançar. esta espécie de peça em que os actores entram só quando têm de entrar, e agem só e apenas da maneira que têm de agir, da maneira que se espera que eles ajam, é chão que já deu uvas.
Queria apenas dizer que acabei de registar a frase: “Uma Kapital por capital”.
Nos dias que correm... Pode ser uma mais valia.
De quem é a culpa?

A culpa é, obviamente de Durão Barroso e da gravata-amuleto que continuou no pescoço do ex-primeiro ministro até à última sexta feira, dando, mais uma vez, azar à maioria dos portugueses, que durante uma semana andaram iludidos com a hipótese da realização de eleições antecipadas.