2004/06/22

ontem fui ao aeroporto de manhã, e deu para ver os títulos internacionais da imprensa, tipo, le monde, el país e coisas desse género.

fiquei um bocado triste com o cabeçalho do le monde que era qualquer coisa como "data histórica: 18 de junho, um dia memorável para a europa".
o que me fez pensar na dita constituição europeia, assinada lá por entre montes e vales e nós aqui no euro nem nunca mais nos lembrámos disso.
olho-a sobretudo com apreensão, porque tenho um bocado de medo do que ela irá trazer para nós e para a europa em geral. não me parece que a longo prazo sejam coisas muito boas, mas ao mesmo tempo, reconheço que esse é um rumo óbvio para o país, que obviamente não quer ficar esquecido nesta ponta da europa.
mas irrita-me que sejam outros a decidir por nós o que secalhar podia ser um bocado mais interactivo, num processo que, embora concerteza mais demorado, seria talvez mais satisfatório para os povos em geral.

ou pelo menos para mim.

acho que sou um bocado contra a constituição europeia mas agora também já não há nada a fazer.

por outro lado, só queria aqui dizer que a aventura do manuel monteiro no PND para mim não faz qualquer sentido. acho que o rumo para um país mais equilibrado democraticamente passa por uma alternativa semelhante à dos EUA ou do Reino Unido: dois partidos base. já está assente que a democracia não funciona, e faz para mim mais sentido ter dois partidos a opor-se, um de direita e um de esquerda, com alternativas diferentes (pelo menos "mais" diferentes do que as do PS e PSD), e uma força mais militante e extremista talvez, em movimentos não partidários que, como está mais que provado hoje em dia, têm muito mais aderência do que os partidos.
é talvez uma alternativa polémica (a maior parte das pessoas a quem eu disse isto, como o ricardo, não concordam nada), mas é de facto o que me parece mais acertado hoje em dia, e tendo em vista o panorama internacional.

2004/06/21

VOLTA INÊS, ESTÁS PERDOADA

ainda não tive a oportunidade de fazer o meu primeiro post futebolístico, e andam a passar tantas coisas pela minha cabeça que nem sei por onde começar. mas anteontem, ao ler o jornal, tive a certeza do que queria, antes de tudo, escrever.

há uns dias, o paulo disse-me que agora os jornalistas, mesmo que não fossem de desporto, por causa do euro, faziam um esforço e lá tinham de escrever umas coisas relacionadas com futebol, porque isto agora é só o que interessa... logo o meu espanto não foi grande quando vi que a grande repórter cultural inês nadais estava a escrever artigos diários para o suplemento do euro do jornal público. O que de facto me surpreendeu, foi a inês nadais continuar a escrever artigos que agora, com um público alvo bastante diferente, continuavam a primar pela sua arrogância, prepotência, e uso abusado de estrangeirismos, preciosismos, e da língua inglesa.

esta senhora já há uns tempos que tem dado nas vistas, como merecedora do prémio "kathleen gomes 2004" ou mesmo do "eu sou um boi 2004", devido na sua maioria a esse estilo pretencioso com que insiste em escrever, nas suas críticas a cinema, música e teatro, com que nos brinda semanalmente, nesse suplemento cultural a que alguns chamam Y. há quem diga que isto é sintomático do início de carreira jornalística, onde juventude e capacidade se unem, dando origem a um ser que acredita saber tudo, o chamado complexo "eu-sou-bom" característico do início da adolescência mas que em alguns casos se prolonga até idades avançadas. neste caso, dá origem a artigos que andam para a frente e para trás, numa escrita irónica, ao correr da pena, com punchlines precisas mas que não provocam o riso, são compreendidas por poucos, e suscitam esgares cínicos na melhor das hipóteses. é essa uma escrita fundamental dessa classe cultural que é a dos intelectuais de 25-30 anos, com óculos de massa, camisolas de gola alta (pelo menos no inverno) e conversas tão específicas, tão cheias de piadas privadas e rebuscadas que muito poucos as conseguem compreender a fundo.

por isso mesmo, fiquei bastante surpreendida quando vi o nome inês nadais no suplemento euro do público (que diga-se, numa breve nota, que não está mal paginado, mas escolherem a impact e a eurostile condensed para os títulos não é uma aposta lá muito certeira - e as crónicas, se não me engano, são totalmente a bold.. o que também não encoraja à leitura). mas mais surpreendida fiquei quando começo a ler esses mesmos estrangeirismos, expressões inglesas, escrita ao correr da pena, e, a terminar o artigo, essa punchline sem piada absolutamente nenhuma. só que neste caso deu-me uma imensa vontade de rir, porque obviamente quem fazia o relato do jogo (o artigo era sobre os holandeses no Porto, no dia do Holanda-Alemanha, e referia-se ao jogo homónimo em Hamburgo 88, que se não me engano, a Holanda ganhou) era outro senhor. bem gostava eu de ver um relato de futebol pela sra. inês nadais! aproveitava para lhe perguntar o que era um 'fora de jogo', a ver se ela sabia. pelo menos disfarça bem.. a escrever sobre outras coisas! é bestial como é que um artigo sobre futebol pode ter tudo menos alguma coisa escrita sobre futebol.

inês nadais, vossa mercê está de parabéns.


ps. uso a palavra punchline à falta de conhecimento de uma palavra portuguesa que a traduza directamente. se souberem, ajudem-me sff. "linha de soco" e "fala de soco" evitam-se, obrigada...

2004/06/10

vocês desculpem lá o atraso, mas tinha de falar de mais uma experiência sensorio-cultural que tive, e que, embora tenha sido há dois meses, foi tão transcendente que merece um relato, nem que seja pequenino e traído pela memória.

(é isso e o facto de faltarem duas semanas para acabarem as aulas e ter montanhas de trabalhos para fazer, coisas que me impelem a fazer coisas que não preciso de fazer e que me roubam muito tempo, mas me dão algum prazer)

o que se passou foi, no Lux, em lisboa, 29 Abril, o CumpliCidades #18, um concerto de Gonzales e Jamie Lidell.
se forem como eu, vão dizer "hã?". pois. eu também não sabia.
lá fui arrastada, confesso, com um bocadinho de medo do resultado final, um bocadinho relutante em pagar 12 euritos. mas lá entrei, lux vazio, com aquela decoração horrorosa, aquele sapato gigante que sinceramente só lá está a ocupar espaço, Kylie Minogue a bombar, ninguém por lá. depois desci e vi uma pista vazia, um piano e estranhei. quando o gonzales chegou, vinha com o cabelo molhado e penteado para trás, como se tivesse acabado de sair do duche, e um copo com vodka na mão. estavam 10 pessoas na pista e ele disse "olá, venho aqui tocar umas músicas", sem microfone, só para nós. depois sentou-se ao piano e à medida que a pista ia enchendo, foi tocando com um à-vontade enorme, um virtuosismo fora de série e uns arranjos bestiais, uma série de músicas que incluiram o "beat it" e o "she's a maniac, maniac, on the floor!" e que embora calminhas e só instrumentais, foram espectaculares! por trás, uma projecção das teclas do piano onde víamos as mãos dele, frenéticas. quando acabou, depois de um encore, ele estava todo despenteado e com o cabelo seco. disse "vou chamar aqui o meu amigo jamie lidell", e ao som de gritos "gonçalves!!" entra o lidell de pijama e xanatos. os gritos passam para "jaime!!" e aquilo que aquele homem fez com um microfone, uma caixa de ritmos, um sintetizador e alguns efeitos foi indescritível, e fabuloso. só com a voz dele repetida, gravada e passada, fazia beats poderosíssimos, num processo meio herbert-iano (pelo menos do que consta da sua visita a celorico de basto), com músicas que foram, entre outras, soul, r&b, electrónica experimental e house, para terminar. aquele homem tem uma voz fabulosa! quando chamou o gonzales para o acompanhar ao piano e depois ao sintetizador, foi a loucura total.
sem dúvida nenhuma, foi o melhor concerto que já vi no lux, e em todo este ano. quero mais!! quando cheguei ao piso de cima a pica era tanta que aquele housezinho merdoso que estava a passar só me deu vontade de sair do lux e fui a andar do cais da pedra até ao rato.
agora espero não sei por quê, mas só me dá vontade de ir a mais concertos assim...