Ao que na minha faculdade geralmente chamamos "objecto híbrido composto por um intercâmbio entre duas realidades opostas, das quais resultam uma nova proposta que combina as principais características dos dois mediums" (ou qualquer coisa igualmente má e parecida), o resto da população chama pastiche... Uma palavra simples e metricamente simpática.
Há uns tempos fiz um pastiche de um texto do José Luís Peixoto.
MOESTE-ME
Regressei hoje a esta terra cruel. A nossa terra. Estou deitada nesta melancólica noite que apagada de vida deixa-me apenas com as fantasias lúdicas do dia já passado. Durmo. Ás voltas nesta cama que ambos construímos, pai. Lembro-me como me contavas histórias de infantas como era bom olhar-te a adormecer. Nesta cama que construímos, pai. Agora durmo, sem sonhar, sem me mexer, imóvel nesta cama que construímos. pai.
Oiço-te pai. Pela porta entreaberta oiço-te com o aspirador junto ao meu quarto, são 5 desta manha que ainda não raiou, mas vejo-te através da luz fina que clareia entre o negro vítreo da noite, Fito-te pai, que ás 5 da manha aspiras cuidadosamente a porta do meu quarto. Roubo um sonho ao sono parado e julgo o dia dissoluto que ainda não começou . Durmo pai.
Oiço-te pai. Que as 7 da manha cortas a relva junto á minha janela. Volto-me na cama mas sei que deixaste a porta aberta para o anafado cão ocupar-me a cama. Empurro-te cão. Entorpecida empurro-te para fora da cama, mas tu não te mexes. Sei, fiel companheiro que agora repousas tranquilo depois de teres comido os teus biscoitos favoritos, os meus sapatos e o gnomo de loiça do jardim. ocupas-me a cama, companheiro.
Oiço-te pai, ligas o rádio ás nove da manha, esse rádio que ambos poderíamos ter construído se vivêssemos no Japão,oiço o rádio, eu e todos os vizinhos num raio de 5km, ouvimos-te pai.
Entras-me pelo quarto, pai, enquanto abres a preguiçosa janela no amanhecer deste dia que já é tarde na manhã. Que já é tarde no dia.
Aproveitas e furas a parede,pai, para pendurar aquele quadro que ainda não comprámos... Mostras-me como é, avanças com um berbequim, avanças e furas a parede e ensinas-me, pai, ensinas-me como o teu pai te ensinou. Eu, ignoro-te mas tu, pai, móis-me o juízo, nesta manhã domingueira.
Moeste-me toda a minha paciência e eu, pai, ignoro-te enquanto tento pensar em adjectivos e advérbios de modo que não ainda tenha utilizado. Consigo ouvir-te a dizer "Levanta-te!", Não te respondo porque tento voltar á sonolência nesta cama que ambos construímos. pai.
Gritas-me da cozinha "ou sais da cama ou não almoças" e eu, pai, só tenho tempo para pensar... moeste-me!
Há uns tempos fiz um pastiche de um texto do José Luís Peixoto.
MOESTE-ME
Regressei hoje a esta terra cruel. A nossa terra. Estou deitada nesta melancólica noite que apagada de vida deixa-me apenas com as fantasias lúdicas do dia já passado. Durmo. Ás voltas nesta cama que ambos construímos, pai. Lembro-me como me contavas histórias de infantas como era bom olhar-te a adormecer. Nesta cama que construímos, pai. Agora durmo, sem sonhar, sem me mexer, imóvel nesta cama que construímos. pai.
Oiço-te pai. Pela porta entreaberta oiço-te com o aspirador junto ao meu quarto, são 5 desta manha que ainda não raiou, mas vejo-te através da luz fina que clareia entre o negro vítreo da noite, Fito-te pai, que ás 5 da manha aspiras cuidadosamente a porta do meu quarto. Roubo um sonho ao sono parado e julgo o dia dissoluto que ainda não começou . Durmo pai.
Oiço-te pai. Que as 7 da manha cortas a relva junto á minha janela. Volto-me na cama mas sei que deixaste a porta aberta para o anafado cão ocupar-me a cama. Empurro-te cão. Entorpecida empurro-te para fora da cama, mas tu não te mexes. Sei, fiel companheiro que agora repousas tranquilo depois de teres comido os teus biscoitos favoritos, os meus sapatos e o gnomo de loiça do jardim. ocupas-me a cama, companheiro.
Oiço-te pai, ligas o rádio ás nove da manha, esse rádio que ambos poderíamos ter construído se vivêssemos no Japão,oiço o rádio, eu e todos os vizinhos num raio de 5km, ouvimos-te pai.
Entras-me pelo quarto, pai, enquanto abres a preguiçosa janela no amanhecer deste dia que já é tarde na manhã. Que já é tarde no dia.
Aproveitas e furas a parede,pai, para pendurar aquele quadro que ainda não comprámos... Mostras-me como é, avanças com um berbequim, avanças e furas a parede e ensinas-me, pai, ensinas-me como o teu pai te ensinou. Eu, ignoro-te mas tu, pai, móis-me o juízo, nesta manhã domingueira.
Moeste-me toda a minha paciência e eu, pai, ignoro-te enquanto tento pensar em adjectivos e advérbios de modo que não ainda tenha utilizado. Consigo ouvir-te a dizer "Levanta-te!", Não te respondo porque tento voltar á sonolência nesta cama que ambos construímos. pai.
Gritas-me da cozinha "ou sais da cama ou não almoças" e eu, pai, só tenho tempo para pensar... moeste-me!