2004/12/05

A coisa divertida à sexta feira é que, ao ler o Inimigo Público e o Público, já não sabemos qual dos dois é que é fictício. Tenho pena que agora que o santana se vai, as coisas mudem. Mas espero que mudem.

Era como dizia o Ricardo AP no outro dia: O santana deu-nos uns quatro mesitos divertidos.

2004/12/03

ALEXANDRE, O GAY
ou Pequena Crítica a um Épico Experimental


Definitivamente não é bola negra. Eu gostei. (A Cristina, não). Mas há uns pontinhos de tensão neste filme de Oliver Stone.

A primeiro e talvez mais óbvio é a homossexualidade ou bissexualidade do personagem principal. Não sendo claramente um factor mau ou bom, a maneira como é tratada é que é fraca. Passo a explicar: a personagem construída por Colin Farrel (na minha opinião, um excelente actor), um homem duro, visionário, apaixonado por tudo - inclusive Roxana ou Heféstion -, mas ao mesmo tempo atormentado e vivendo uma subjugação à mãe que revê constantemente, e um complexo de Édipo mal resolvido, desvanece-se total e completamente nas cenas de "casal" com Heféstion, em que a dureza e determinação com que enfrenta tudo se transformam em declarações de amor lamechas e patéticas, pindéricas até. A recusa de representar esse amor como ele é, de uma maneira crua, fria e violenta como tudo é representado no filme refugia-se numa embaraçosa troca de juras de amor, que reduz a questão homossexual a uma politicamente correcta, irritante por não se concretizar, fingir que é, com uns abraços, umas palmadinhas nas costas e uns olhares de cachorrinho abandonado. Onde é que estão os olhares de luxúria e cobiça que Alexandre deita a Roxana, à Babilónia? Ou deveremos acreditar que o "amor" verdadeiro envolve lágrimas e falas
como:
Heféstion para Alexandre, entre olhares intensos e, invariavelmente, lágrimas: Lembro-me quando tu me mascaravas de xeque e empunhavas a tua cimitarra.

Passando à frente para outras questões, há uma que me agrada bastante, que é a maneira como tudo é filmado, numa abordagem, quanto a mim, bastante experimental para um épico. Planos ousados, travellings fabulosos (como o da frente da batalha que vai para a àguia por cima do campo, para os inimigos e de volta a Alexandre, com um desvanecer de àudio que não se adivinha), e até sequências em câmara lenta que acabam por funcionar apesar da piroseira por vezes inerente; depois, uma reconstituição histórica audaz cujo maior trunfo é a reconstituição de Babilónia e Alexandria; terceiro, os locais onde se filmou são de cortar a respiração.

Diferente, mas dentro do mesmo campo, é a questão da montagem. Desagradou-me em vários casos, porque parece que filmam algumas sequências (tipo: entrar numa floresta) em dois ou três planos e alternam sempre entre eles. Para uma super mega produção, em algumas cenas, esperava mais diversidade de planos.

Depois, a questão da manipulação da cor, que também tomba para o piroso no fim, e torna-se meia incompreensível na cena da batalha vermelha: mas que raio! O resto do filme oscila sempre entre o piroso americanóide lamechas e momentos que vibram com uma energia fora do comum - graças, na minha opinião e sempre, à interpretação de Colin Farrell que é a coisa mais coesa neste filme. Val Kilmer dá uma ajudinha mas tem pouca participação para impor o personagem. Angelina Jolie é uma equação estranha para mim. Ela tenta, tenta, tem uma presença forte, mas não consegue impor o personagem. Jared Leto não passa nunca do pretty boy que é, e o séquito de Alexandre e entourage ficam-se pelos menininhos, com algumas personagens fortes que não aguentam o todo.

No geral, é uma confusão. Anthony Hopkins como narrador tenta segurar a história; a falta de introdução ajuda porque não segue a fórmula do costume (tipo: entrar no cinema para ver um épico e levar com 30 segundos de texto no ecrã a contextualizar a história), mas também ajuda a baralhar. Depois, a falha narrativa entre os 20 e 22 anos de Alexandre, em que ele conquista o Egipto e é proclamado faraó, simplesmente não existe e não se percebe porquê, excepto por questões de duração (mas se o Senhor dos Anéis aguentou porque é que este filme não aguentaria também?). Ainda por último: a dúvida em relação aos sotaques e ao facto dos gregos falarem irlandês. Estranho.

Conclusões: poucas. Dúvidas: muitas. Problemas: bastantes. Mas no geral, penso que este filme ainda consegue inovar num campo relativamente àrido que são os épicos. O problema também é que secalhar é novidade a mais para o público em geral, e um possível espalhanço nas bilheteiras pode ditar a morte deste género que nos últimos anos tem visto um renascer graças às maravilhas técnicas recentes.
Ah, e o Oliver Stone tem de curar algumas das suas obssessões. Ou não.

2004/12/02

A Kati hoje deu bola negra ao Alexandre.
Deu-me logo vontade de ir ver.
Deve ser o filme do ano.