2004/05/29

Nestes últimos tempos temos vivido a histeria do futebol.
Por todo o lado vemos alusões a futebol, jogadores, Figo, seleção portuguesa, Figo, possíveis contratações, Figo, possíveis despedimentos... Mas só agora é que o povo português se apercebe do verdadeiro potencial dos publicitários portugueses que, por artes mágicas, conseguem transformar qualquer objecto, por mais banal que seja, numa bola de futebol (inclusive o queijo dos Açores). Sinceramente, depois de ter visto que o logotipo do Euro (inspirado no galo de Barcelos e na filigrana), nunca pensei que os publicitários pudessem ir mais além... mas afinal, as imagens provam o contrário.
Mas, voltando ao início do post... A histeria em volta do futebol é enorme, provavelmente, sempre foi assim e eu é que nunca quis saber.
Os meus conhecimentos futebolísticos são quase nulos ( não totalmente, até porque sei que o futebol implica jogadores, uma bola e duas balizas), se alguém me pergunta de que clube sou, geralmente respondo Benfica (porque quando o Porto joga, sou, geralmente da equipa contrária) não por nenhuma razão em especial, gosto do Benfica porque... Porque é que se gosta de um clube? Não sei... sinto-me feliz quando falo do Benfica na primeira pessoa do plural "Nós ganhámos a taça", por outro lado sinto-me bastante miserável quando tento utilizar o mesmo tempo verbal em relação ao Porto (a não ser que seja "nós perdemos a taça"). Talvez seja do Benfica por uma questão cromática, gosto do vermelho, uma equipa de vermelho a correr sobre um relvado verde apela aos meus instintos patrióticos.
Ainda hoje estava a falar com uma amiga minha que me disse e passo a citar: "o meu coração é azul e branco" , isto parece-me muito mau sinal, podemos concluir que: ou ela está morta, ou vai morrer em breve. O mesmo se pode dizer dos sportinguistas que dizem " o meu coração é verde", que me sugere um avançado estado de putrefacção.
Quanto a mim, o meu coração continua a ser vermelho, o que é uma prova irrefutável que o meu coração continua a bombar sangue para o resto do corpo e melhor que isso, uma prova de que estou viva.

2004/05/19

hoje apetece-me dizer uma coisa simpática sobre as repartições de finanças.
isto porque tenho passado os últimos dias em lisboa, a recolher papéis para me candidatar a uma bolsa, e a fazer deslocações a sítios interessantes e pouco populosos como juntas de freguesia, repartições de finanças e lojas da segurança social. hoje, em especial, passei algum tempo extra numa repartição de finanças.
por isso, apetece-me escrever uma coisa especial e simpática sobre as repartição de finanças.
mas por mais que me apeteça, É IMPOSSÍVEL!

1. era de tarde e esta repartição de finanças estava cheia e obviamente, com o calor que está, estava-se a assar lá dentro.
2. a àrea ocupada por esta repartição de finanças em particular equivale a uma pequena zara. o número de funcionários lá dentro, no entanto, é o triplo de funcionários duma pequena zara, rondando as três dezenas.
3. o número de funcionários que estava efectivamente a fazer alguma coisa contava-se pelos dedos de uma mão.
4. o número de funcionários que estava a fazer outra coisa qualquer era bastante maior. entre as frases mais ouvidas vindas desses indivíduos (quando estavam a falar uns com os outros, situação que era entremeada com idas à internet e conversas pelo telefone com amigas de infância) contaram-se "vai ver à internet"; "não mas eu levei-o ontem ao hospital"; e "ontem vi esses sapatos na zara e por acaso acho que não combinam com a colecção de primavera-verão".

isto leva a acontecer a seguinte situação tipo:
a pessoa chega, tira uma senha, espera 20 minutos para ser atendido e quando é dizem-lhe "ah não mas isso é um certificado tem de pedir ali naquele balcão onde diz requisições de certificados e não precisa de tirar senha". a pessoa dirige-se ao balcão de requisições de certificados e espera 15 minutos. enquanto o faz, consegue ter uma vista do interior da repartição de finanças, e visto ser a ÚNICA pessoa nesse balcão à espera de atendimento naturalmente exaspera porque vê 20 pessoas a andar de um lado para o outro, a falar ao telefone, a ter conversas de café, a passar e a autenticar com selo branco um documento (passado 5 minutos voltam com o mesmo documento e autenticam com selo branco a segunda folha desse documento), e quando essa pessoa pergunta, "desculpe podia atender-me" respondem de maneira deveras prepotente "espere que a colega atende-a" e apontam para uma mulher que está no balcão ao lado a atender três pessoas ao mesmo tempo e depois de o fazer atende-nos com ar exasperado porque não está a atender as pessoas do balcão DELA, e depois de a pessoa lhe explicar a situação a senhora diz-lhe com ar impaciente "não menina para isso tem de ser feita uma requisição de cada membro do agregado e depois tem de vir entregar as requisições e depois demora até oito dias para lhe entregarmos os papéis por isso tem de voltar cá amanhã e depende do serviço que tivermos o tempo que demora a passarmos os certificados", e depois a pessoa vai-se embora com vontade de estrafegar todo o funcionário público que se cruze no seu caminho porque o que ela queria era uma declaração em como ela e o agregado NÃO têm propriedades e não percebe COMO é que pode ser difícil passar um papel desses.

amanhã às 8 da manhã estou lá outra vez. e depois, segurança social, cá vou eu.
com sorte amanhã apetece-me escrever qualquer coisa simpática sobre a segurança social.

2004/05/18

Há uns dias no jornal da SIC tive oportunidade de ouvir uma pérola saída da boca de ninguém mais do que o nosso primeiro ministro Durão Barroso. Justamente a proposito daquela estátua que inauguraram no 25 de Abril, o senhor dizia que "deixe-me dizer-lhe que todos gostaram muito da estátua. nós os políticos não costumamos estar de acordo em relação a muitas coisas mas normalmente atingimos um consenso em relação à arte".

O que me lembra aquela vontade que os médicos têm de pintar quando chega determinada altura da vida deles. De pintar ou de fundar galerias de arte, comprar quadros para decorar as casas deles... Costuma dizer-se que se a pessoa tem muito jeitinho com as mãos ou vai para medicina ou vai para artista...

2004/05/17

QUEIMA-Ó-DROMO

Foi na semana passada, semana da queima das fitas no porto, que me aconteceu andar duas vezes no mesmo dia no mesmo autocarro (sim, esse meu sempre fiel 78, trajecto foz-baixa, companheiro nas horas difíceis), com um intervalo de exactamente 12 horas entre as duas vezes.
Da primeira vez, às 6h30 da manhã, entrei num autocarro cheio de jovens assim sensivelmente na casa dos 20, todos com caras de sono e enfado, a cheirarem a álcool, a fumo, e a outras consequências nefastas da bebedeira, e em todo o trajecto que fiz iam entrando alguns velhinhos, assim na casa dos 60, que olhavam desagradados para a população jovem que enchia todo o autocarro ocupando aqueles bancos todos, incluindo os lugares reservados a "idosos, deficientes e grávidas", e pensando "meu deus! o autocarro está cheio de jovens!".
Da segunda vez, às 6h30 da tarde, entrei num autocarro cheio de velhinhos assim sensivelmente na casa dos 60, todos com caras de enfado muito marcado, a cheirarem a mofo, a naftalina, a tabaco entranhado, e a outros cheiros menos agradáveis que não vou aqui descrever, e em todo o trajecto que fiz iam entrando jovens, assim na casa dos 20 (e alguns mais novos), que olhavam desagradados para a população não-tão-jovem que enchia o autocarro ocupando aqueles bancos todos, incluindo os lugares de pé entre a parte da frente e trás do autocarro e aquela fila de bancos de trás, e pensando "meu deus! o autocarro está cheio de velhos!".
Esta situação pareceu-me sobretudo inusitada, e senti uma certa tensão das duas vezes (mais atenuada de manhã do que à tarde, em que por pouco ali na parte da cordoaria não iam saltando pessoas às goelas umas das outras).

2004/05/10

A TVI consegue suplantar-se negativamente. Depois da nova série de humor, os Batanetes, os Morangos com Açucar que começaram a seguir não me pareceram tão maus como de costume. Uma vez, que a TVI já bateu no fundo, só lhe resta, agora, começar a transmitir funerais em directo para ultrapassar as audiências dos Malucos do Riso.

2004/05/08

Descobri recentemente que alcançar a fama em Portugal em bem mais fácil do que pode pensar...
Resume-se a uma questão matemática. Pessoas com 3 nomes têm todo o sucesso e um lugar cativo no star system português; pessoas com 2 nomes estão destinadas ao anonimato total e pessoas com um nome alegram os arraiais em Agosto com músicas como "mister gay".

Nomes como: Manuela Moura Guedes, João Bénard da Costa, Cristina Caras Lindas, Margarida Rebelo Pinto, Miguel Sousa Tavares, Clara Ferreira Alves, Anabela Mota Ribeiro, José Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa, Sophia de Mello Breyner, Margarida Pinto Correia, José Rodrigues dos Santos, José Castelo Branco, Eduardo Cintra Torres, Eduardo Prado Coelho, Manuel João Vieira, José Eduardo Moniz, Carlos Pinto Coelho, António Lobo Antunes, Miguel Esteves Cardoso, Luísa Castell Branco, e por aí fora.... Têm todo o reconhecimento do público, não por terem desenvolvido um trabalho notório ou até mesmo excepcional (como nos fazem acreditar), mas antes por terem 3 nomes.

Pessoas com 2 nomes como: José Saramago, Mário Soares, Cavaco Silva, Judite de Sousa, Carlos do Carmo, Fernando Mendes, Fernando Santos, etc.. São totalmente anónimas e ficarão para sempre no desconhecido ao público português, exceptuando-se destas as que têm dois nomes, mas em que um deles é estrangeiro: Maria Rueff, Herman José, Rui Zink, Nuno Markl, Kathleen Gomes, que, curiosamente, se fazem notar não só pelos nomes estrangeiros mas também pelo percurso têm feito no humor português; e ainda actrizes/apresentadoras com sinais característicos, como: Catarina Furtado, Alexandra Lencastre e Sílvia Alberto.

As pessoas com um nome estão destinadas a esse muy honroso panorama pimba português. Toy, Alex, Romana, Ana, Emanuel, Ágata, Nani,etc., percorrem este país de lés a lés, com rimas, que nos animam em queimas das fitas, festas religiosas, e comícios.

Na base da pirâmide hierárquica dos nomes vem o Jet Set português, com nomes como Cinha, Pita, Tete, Pimpinha, Xuxu, Mimi, etc. Nomes com, geralmente, duas sílabas e sem significado aparente que nos fazem questionar se não estaremos antes a lidar com uma animal de estimação

Ainda no outro dia estava a falar com o Mário sobre esta minha teoria ele acrescentou que nos Estados Unidos, todas as pessoas que têm 3 nomes são assassinos em série ou assassinados... Uma vez, que Portugal tem alguma tendência para imitar muito do que se faz no estrangeiro, desejo para muitas das personalidades com 3 nomes a segunda hipótese deixando apenas a alguns o livre arbítrio de matarem quem quiserem .