UM POST ATRASADO
ou
Relato do fim de semana de 13 e 14 Novembro
Primeiro. "Surplus" no Passos Manuel, um documentário sobre a sociedade de consumo e seus expoentes, de uma maneira geral. Sexta à noite, com a sessão de cinema gratuita à meia noite. Também foi a minha primeira visita ao espaço Passos Manuel, que me parece bem melhor que o Maus Hábitos do outro lado da rua (mas secalhar é só por ser novidade). De qualquer das maneiras, o documentário, de Erik Gandini e Johan Soderberg, é espectacular: uma montagem vertiginosa, muito cuidado no encadeamento imagem/som, muitas línguas, muitos países, muitos cenários. Uma abordagem que é quase uma música: um refrão que repete partes mais emblemáticas do discurso, num todo que resulta extremamente contemporâneo e actual: revi-me naquilo e foi por isso também que gostei de me embrenhar e deixar-me levar - o que levou à reflexão mais profunda que o filme pressupõe. Não concordei com algumas das posições que tomavam, como a da luta violenta contra o consumismo (baseada em imagens da convenção dos G8 em Génova), mas no geral fez-me pôr algumas partes da minha existência em perspectiva. Claro que os dramas existenciais sobre ser consumista se desvaneceram depois de uma hora a dançar na pista do Passos Manuel - como toda a abordagem leviana também esta tem dificuldades em se entranhar em mim. Mas fica latente por voltar ao pensamento passado algum tempo. Espero que assim seja ao longo deste ano e dos próximos: sem pensar nestas coisas tenho medo de tornar inócua e inofensiva. Quanto ao Espaço Passos Manuel, tudo óptimo (aquelas cabinezinhas insonorizadas por trás do bar no piso de cima são ...uaaau!): mas mais uma vez, sempre as mesmas pessoas nos mesmos sítios. Os lobbies do Porto em acção. Já estou habituada...
Segundo. "Figurantes" no TNSJ (Teatro São João). Peça de inauguração do PoNTI'04, com encenação de Ricardo Pais, com texto de Jacinto Lucas Pires, cenografia de Pedro Tudela, elenco com os já habituais actores de Ricardo Pais, incluindo João Reis e António Durães. Embora no fim da peça tudo me parecesse irritante por mais uma vez os lobbies do Porto estarem em acção (se aquela cambada do TNSJ não é um lobby, meus amigos, então o que será?), gostei da peça. Primeiro, por reflectir no seu âmago sobre a linguagem, coisa que me parece menorizada em muitos aspectos, e extremamente importante; depois pelo aspecto cénico, coisa nunca descurada por Ricardo Pais e que, embora esteja um pouco longe da obra prima que foi Hamlet, é sempre um regalo para os olhos. Os actores são fantásticos, e a peça tem imenso ritmo, embora talvez levante demasiadas espectativas ao longo da peça que culminam num fim um pouco decepcionante. Pelo menos para mim. Espero por próximas produções. E espero poder ir a mais peças do PoNTI.
Terceiro. Sem ser cultura a potes, só uma observação: Sábado estava na FNAC NorteShopping uma senhora chamada Joanne Harris a autografar livros. Era assustador ver uma data de quarentonas com pilhas de livros dela a esperar pela senhora que escreve histórias para lhes encher as horas de ócio. Não sei se é bom que leiam aquilo, ou aquela outra italiana (Sveva Casati Modignani??) que escreve livros com títulos como "Baunilha e Chocolate" ou "A Viela da Duquesa". Ao menos não é Margarida Rebelo Pinto, mas e daí...